sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Intercâmbio - Ana Paula

“M” Para Não Dizer o Nome
Ana Paula Gama

Perfume, doce e caro
Voz delicada e de corpo dado
Carro do ano, com dinheiro de velhos
Dinheiros de noites frias em fazendas.

Tem o celular da moda e é o mais sujo de todos
Inteligência não falta, mas falta caráter
E amor por homens que transa por dinheiro.

É uma mulher baixa de cabelos curtos e negros
Cheia de dinheiro e outros apetrechos
Tenho certeza que chora, chora e chora
No banheiro da academia, no banheiro do trabalho,
No banheiro de casa e no banheiro da casa desses homens.

E ao olhar no espelho repara nos seios de silicone
Repara o rosto meigo com pele macia
E no corpo cheio de estrias
Essas que contem a marca desses homens
Que tocou esse corpo imundo
E que jogou o dinheiro na cama do motel
E na cama da casa de família.

Forte e serena aparenta ser
Também... Com os gemidos falsos da noite passada
Não há mulher que resista,
A dor de olhar para a filha
Com olhar de mãe, pura e puta.

Sorriso branco de tantos clareamentos que foram feitos
Tudo isso para esconder o podre dessa boca mal beijada
Dessa boca usada por um status a mais...
Por mais um perfume caro, por mais um carro,
Por mais um celular e por mais um silicone
E a cada mudança feita no seu corpo
Servirá para esconder a ‘M’ linda que todos vêem.

Nome: Ana Paula Gama

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Intercâmbio - Manuella

Matriz
Manuella Coelho

Sou matriz
Se não se importa,
estou passando a tranca na porta,
seu mapa não vai me guiar.
Veja como você me trata,
como em talheres de prata
e não as sobras do seu jantar.
Não entro em bola divida,
prefiro perder a partida,
procuro sempre meu próprio lugar.
Ser amada por inteira
sessão de domingo
foto na carteira.
Sem sentimento de culpa
nem aturar as desculpas
em pedidos ou esfarrapadas.
Estou batendo em retirada
e a cada traço de saudade
pensarei numa doce maldade
Tomarei uma longa distância
direi que não teve importância
falarei que nunca estive afim
negarei tudo até o fim
e mesmo sem te convencer
não vou dar o meu braço a torcer
Sou uma atriz
Má atriz.

Apresentando: Manuella Coelho
Blog: http://www.todamenina.blogger.com.br

Intercâmbio - Adélia

Alfabetização e Cidadania
Adélia Chaves

Cidadania se descreve
Escola cidadania
Ecologia cidadania
Habitação cidadania
E outras tantas ia
Ia ia ia

Qual será a burocracia?
Da habitação e ecologia
Para essa tal cidadania?
A alfabetização nos determina sermos cidadão
Ou seria cidadãos?

Tu me chamas de ignorante
Talvez falei errado
Mas entendeu meu alarmante

Ia ia ia
O que será a cidadania?
Alfabetização!!!
No entanto não
Ou será que sim?
Seria em fim a harmonia do ia e ão
Para que se chegue à conclusão

Não haverá resposta para a questão
Basta sermos cidadãos
Na política também a questões
Que cuida da nossa educação

Não haverá resposta para esta questão
Se não formos cidadãos
Em boa verdade
Não é isto a Liberdade?

Apresentando: Adélia Chaves

Intercâmbio - Manuela

Seu Jeito de Amar
Manuela Fortunatto

Seu amor é devastador;
Tranpiro,começo a me arrepiar;
Seu corpo tem o calor;
Que na cama me faz delirar;

Seus braços me levam ao paraiso;
Seu perfume ao fundo do mar;
Me enlouqueço, perco o juizo;
Pelo desejo de sempre te amar;

Quando voce me pega desprevinida;
Me assuto mas eu gosto;
Sou sua deusa perdida;
Venha que eu faço eu lhe mostro;

Sou agora seu maior desejo;
Invado todos seus sentimentos;
Venha se embaraçe em meus cabelos
Não irei te deixar fugir em nenhum momento.

Apresentando: Manuela Fortunatto

Intercâmbio - Marcilene

Manhã cinza
Marcilene Silva

Não foi preciso abrir a janela para tomar consciência de que o dia estava nublado. A cor cinza que penetrava pelas frestas da mesma janela fechada já me fazia perceber que o dia era de dor. Meu corpo pesado sobre a cama mal se movia, era como se minhas células estivessem entrando em estado de paralisação, uma a uma. Enquanto isso, vagarosamente um frio atemorizante se instaurava em meu corpo e o deixava gélido. Meus olhos se negavam em permanecer aberto, pois não suportavam o trabalho árduo da visão que não pode evitar o que se encontra a frente e acaba por ser observado mesmo sem pretensão do fato. Sentia como se minhas pálpebras carregassem o peso de uma dor depois de ser expressa em lágrimas dias afora. No entanto, estes mesmos olhos fatigados e entreabertos avistaram a mobília do quarto que acumulava poeira já a alguns dias de descuido, e não era importante a preocupação com esta sujeira externa tendo em vista que havia ainda mais poeira impregnada no passado guardado dentro de mim. E mal podia me lembrar a quanto tempo ela estaria lá. Mas não queria preocupar-me com a poeira. Se não foi possível retira-la ainda, sabia que uma forte tempestade poderia vir e se encarregar de fazê-lo. Isso acaba acontecendo um dia.
Foi apenas alguns minutos passados e a canção fúnebre da chuva já se fazia ouvir. O som melódico que ela entoava, hoje era depreciativo para a fragilidade circunstancial de minha audição. Não era o mesmo som que tantas vezes me integrava ao universo, ao contrário, este era de distanciamento. Senti-me dispersa do mundo, das pessoas, das coisas, de mim mesma. Por vezes o som da chuva se misturava com o grito assombroso de minha alma fragilizada e tudo se confundia dentro e fora de mim. E foi realmente necessário esquecer o passado, pois o presente já se fazia assustador o suficiente para consumir todo o meu dia que apenas começava.
Talvez aquele corpo gélido descrito no início fosse um reflexo da minha alma.
Mover o meu corpo para a inclinação foi tão difícil quanto abrir os olhos, pois tudo pesava e parecia anestesiado, tinha a sensação de ter ingerido doses abusivas de morfina. Mas era efeito de uma substancia naturalmente fabricada pelo meu próprio organismo enfraquecido.
Após algumas tentativas vagarosas, consegui obter êxito e colocar os pés sobre o chão ainda mais frio que meu corpo. Ao erguer-me em direção a porta suspirei profundamente, tomando consciência de que à minha frente saudava-me sarcasticamente mais um dia torturante de minha árdua existência.

Apresentando: Marcilene Silva
Blog: http://marcilenesilva.blogspot.com

Intercâmbio - Ludmila

Rebelou-se dentro de mim a segurança
Revelou-se suspeita, suspensa porque
Tudo que soube era feito de tensão
Seus arredores, tensão
Suas ações, temor
Ou medo, ou torpor
Lavando o reconhecimento de si mesma
Tão necessário e redentor
E ah, enfim encontro o lugar seguro,
De dentro de mim,
De dentro pra fora
E poder oferecer assim, um lugar como esse
Seguro como aquele que descubro
Quando dos temores cuido,
e às tensões observo e acolho
Não estou para deixar-me ser guiada às cegas
Construo o quero,
Pensamento, ação.
Escolha ao alcance das mãos.

Apresentando: Lúdica Lud
Blog: http://ludicalud.blogspot.com

Intercâmbio - Maira

Joãozinho
Maira Guerra

Jovem que tem os...
Olhos para a poesia,
Apesar disso,
Olha através do prisma da realidade
Zoa quando tem que zoar e...
Interfere, se precisar.
Não é frágil como parece e sim:
Homem suficiente para...
Olhar e respeitar.

Apresentando: Maira Guerra
Blog: http://mairaguerra.blogspot.com

Intercâmbio - Thiago


ENCONTRO AGUARDADO
(Saudades de Fernando Sabino)

As velas tremulavam simbolicamente para uma nova vida que chegava. No dia de seu aniversário, renasce, em outra dimensão. É recebido por cantos de vozes conhecidas:

- ...muitos anos de vida!
- Mas vocês são malucos! Eu acabo de não ter mais vida e vocês me desejam mais anos de vida! Acabou gente!
- Fernando, Fernando... você chegou agora à vida eterna. Ela existe, está vendo?
- São vocês!!!

Um abraço conseguiu agarrar os três amigos que antes haviam ido.
- Otto, Paulo, Hélio. Que saudades eu tinha "docês".
- Tinha, agora nada vai nos separar de novo! - Disse um deles - aqui não tem este problema não. A gente pode caminhar e caminhar que a gente encontra quem quiser.
- Claro, quem já veio para cá, né? - Diz outro amigo.
- E disseram que a gente era os quatro do apocalipse, mas isso aqui está parecendo mais com o céu!
- Mas não acredito, pude encontrar vocês mesmo. Sabe, não podia ir vê-los no cemitério.
- Até porque a gente não conseguiria te ouvir direito.
- Uhahahahahaha. Música!

Alegre risada dos quatro mineiros, antecederam uns acordes de Jazz. Como nos bons tempos e sem nenhuma pieguice. Sabiam que era questão de tempo, era só esperar que em breve estariam a reviver suas conversas.

- Posso tocar uma bateria um pouquinho? John Coltrane e Charlie Parker estão ali! Olha, olha Miles Davis!
- Vai atrapalhar nossa conversa, depois você pode tocar à vontade porque não incomodará ninguém. O máximo que poderá causar é uma suspeição de trovão lá em baixo. Venha, você terá tempo depois para ver muita gente - convida-o Paulo Mendes Campos - hoje a festa é sua, de qualquer jeito ia ser: ou lá em baixo ou lá aqui em cima. Doze de outubro te persegue, meu "véio".
- E morreu uma criança mesmo! - Diz Hélio Pellegrino - está com a mesma cara rapaz. - Já servia o whisky para o recém-chegado.
- Bom, - Otto Lara Rezende agiliza - sei que aqui o tempo não é igual ao de lá de baixo, mas andemos logo para mostrar o todo pessoal que esperou por Fernando.

Não muitos nestes primeiros contatos com "céu". Obviamente os mais amigos haviam de recebê-lo! Abriu-se uma sala maior e o bolo foi para esta sala. Parece assim ser festejada a chegada de alguém lá no outro plano.
Rubem Braga e Stanislaw Ponte Preta, foram os primeiros que se aproximaram. Braga fumava, agora, sem nenhuma culpa. Stanislaw, sempre alegre, falou-lhe:

-Estamos no céu, amigo. Ele existe, sim. Só que nadar não poderá mais senão no ar mesmo.
- Sempre de bom humor, hein? Aqui que deve ser o samba do crioulo doido mesmo. Todos aqueles personagens históricos vieram para cá?
- Claro, - responde Braga - mas os mais próximos, aqueles que você amou e que te amaram, você encontrará com mais freqüência.
- Fernando, Fernando, ô Fernando! - Era Vinícius de Moraes - Estava para te falar amigo mineiro, desde que vim para cá. Viu ali na entrada? John Coltrane e Charlie Parker, não sei se você gostava deles tanto assim, mas é o melhor do Jazz.
- Eu vi, Vinícius, daqui a pouco dou minha "palhinha". Mas e cadê a mulherada? Cadê?
- Serve a gente aqui?

Em coro perguntaram e vieram abraçar-lhe e lhe beijar, Clarice Lispector, Cecília Meirelles e Raquel de Queiroz.

- Fala com gente do nordeste não?
- Graciliano Ramos! Que festa isso aqui, sô! Tanta gente boa!
- Não repare, - disse outra voz enquanto Fernando e o velho Graça se cumprimentavam - no primeiro dia é sempre esta festa, depois melhora.

Era Carlos Drummond de Andrade. O outro de Andrade, o Mário também chegava a eles.
- Confesso que saudades tinha eu de nossas cartas, ainda mais de você!!! Para cá vim antes dos dois. Com Carlito, já me pus suficientemente atualizado, agora, vamos ver se nós, meu eternamente jovem escritor, possamos divagar mais sobre aquilo tudo, já que algumas certezas nós vemos quando aqui chegamos!
- Só não digo que morro de felicidade justamente por já ter feito isso.

Esses e mais alguns amigos ilustres somente para Fernando estavam dando as boas-vindas! Até uma galinha tentou alçar vôo.
-É a Fernanda, Fernando. - Disse um quando o viu assustado.

Reencontra-se com os três amigos e estes lhe chamam para ver alguém.
-Fernando, diante de todos estes, sei que o mais te espera é aquele lá!
- Vai ficar aí parado? Depois volta para festa.

Domingos Sabino, seu pai. Abraçam-se com emoção claro, mas sem muitas lágrimas não por falta de afeto, mas por saber que este reencontro é eterno.
- Olha só pai, fiquei mais velho que o Senhor, quase. Viu minha vida lá embaixo?
- Filho, vi tua vida o tempo suficiente. Quando aqui cheguei, aguardei-te ansiosamente para que me contes tudo que fizeste! Devo-te uns conselhos!
Abraçam-se novamente.
Assim parece que foi a recepção de Fernando Sabino no céu. Creio não poder ser mais diferente disto.

A cidade das almas está cheia de alegria. Na cidade dos homens ficou um vazio.

Adeus Fernando Sabino, tratarei bem de suas obras e tentarei usar tudo que aprendi de seu estilo. Seus admiradores manterão a Literatura Viva!

Apresentando: Thiago Quintella de Mattos
Blog: http://www.canisfamiliares.blogger.com.br

Intercâmbio - Cris

Apresentando: Cristiana Guerra

Tudo o que não sei sobre o amor

Cris Guerra

Tive um vizinho que discutia com a namorada três vezes por semana. Eu ouvia tudo. Não por opção: morava no apartamento abaixo. Aquilo era amor ao choro e à reconciliação. Mas não um ao outro.
Difícil saber o que é amor. Mais fácil saber o que não é.
Um namorado citou Guimarães Rosa: amor é “descanso na loucura”. Com ele vivi mais a loucura que o descanso, mas o aprendizado tem que começar por algum ponto. O vizinho devia estar nesse estágio também. Com o tempo vi que ele tinha razão. O namorado, não o vizinho.
Sim, amor é aquela sensação de estar voltando pra casa.
Adormecer lado a lado é a grande prova. No dia seguinte, acordar e ter a sensação de levar alguém com você. Descobrir um sorriso ridículo no canto da boca. Pronto, encaixou. Feito pecinhas de lego: diferentes, mas vindas do mesmo mundo.
Lego é gostoso. Quebra-cabeças, não.
Amor não é desejo: é feito de. Amor é feito de amor, mas não só. Amor não tem razão. Ninguém ama pelas qualidades do outro, nem apesar dos seus defeitos. Ama porque o outro é o outro e pronto. Amor é pacote completo.
Você sabe que é amor quando se descobre cúmplice. Quando tem a coragem de se mostrar. E de se ver. O outro é um espelho. Vai encarar?
Você sabe que é amor quando se entrega. Mas é melhor guardar algo para si mesmo. Amor não pode ser só para o outro.
Amor é o exercício do não ter. Amar e não ter nada em troca. Se é amor, não é em troca. Não serve pra nada, não garante nada. Como as boas coisas da vida.
Amor é presença e é falta. Uma não vive sem a outra. Amor é liberdade. Gostoso é saber que o outro, com tantas opções, escolheu você mais uma vez. O que fazer para que amanhã ele faça a mesma escolha? Mantenha-se distraído.
Amor é feito de hoje. Da arte de não fazer tudo sempre igual. Da construção. Como revestir parede com aquelas pastilhas bem pequenininhas. No amor é preciso colocar uma por uma. Sem pressa de ver pronto. Pra mim, é esse o sentido de amar como se não houvesse amanhã. Menos voraz do que sugere.
Desconfio que o amor começa com afinidade. Mas não tenho certeza. Amei pessoas tão diferentes. Sou amadora. Amei paredes inteiras. Quanto mais aprendo, menos sei. Gosto é do aprender.

Cris Guerra por João Lenjob
Foi com a Cris que eu descobri que a natureza quando mais divina deu um presente mágico pra vida. Além da nossa cordial amizade, de seus belos blogs, tive o privilegio de ler seu livro 'Para Francisco' e descobri que o amor, este nobre sentimento, é muito mais que literatura ou um simples detalhe da criatividade. A lendo percebi que seu jeito de amar é celeste e totalmente didático. A Cris é tudo isso que escreveu e que escrevi. Ela fomenta dos websites que são visitados expressivamente. Além de manter o blog paralelo ao seu livro, ela exibe sua critivaidade visual em seu blog de Moda, o Hoje vou Assim, e como gosto, escreve quase que diariamente. Falar da doce escritora é um prazer e foi com total cortesia que ela participou do Intercambio. Eu? Só agradeço.

Intercâmbio - Lais

Apresentando: Lais Mouriê

Lembrar Você
Lais Mouriê

Eu não poderia lembrar você
quando a chuva afoga o dia e o meu grito,
quando a noite cobre a terra de estrelas sem iluminar meu sonho,
quando o arco-íris colore o céu e rouba o colorido do meu sorriso.

Mas tua lembrança imerecida retorna.
Afaga
e sufoca.
Acende
e consome.
Alimenta
e degenera.

Agita todo o sangue que pulsa teu nome.
Acorda as sombras adormecidas em meus cabelos.
Alinha as curvas que me desviavam da tua rota.

Eu não deveria lembrar você
quando o corpo pede sono,
quando a luz pede vida,
quando o presente pede calma.
E eu peço você.

Lais por João Lenjob
A Lais é outra pessoa que cito como super talento. Ela tem um profissionalismo incrível para escrever e expressar seu formato de um jeito carinhosamente seu. E nada muda desta pessoa em relação à doçura e atenção que tem. A conheci fruto da Revista Trapiches, onde desfrutamos do coleguismo, só que em dia de balada, quando curtindo Stones percebemos que tínhamos muito em comum. Sobre participar do Intercambio, ela correspondeu ao projeto com total inteligencia. Muito bom tê-la aqui.

Intercâmbio - Vinícius

Apresentando: Vinícius Ferreira Magalhães

Trabalhador Segunda Pessoa
Vinícius Ferreira Magalhães

Tu conheces a vida do trabalhador brasileiro? Não os empresários e empregos hierarquizados da sociedade, mas os que calejam as mãos, os que pegam no pesado, na enxada e no machado. Saibas o teu cotidiano, então.
És tu, trabalhador, que despertas antes da aurora, onde a mata vasta e ainda orvalhada faz pulular os coaxos dos sapos enamorados. És tu, morador da periferia, que tens as vestes carcomidas e consomes o primeiro café do dia, amargo.
És tu, homem de inúmeras crias, que saúdas todos os dias os vizinhos, com disposição e alegria. No ponto cedo, esperas tua condução, como sempre lotada; moléstia do trabalhador. Mais uma sardinha na quadrada lataria ambulante. O aperto e os odores incômodos dos pobres laboriosos exalam em todo o ambiente. Além do mais, vais empoleirado por pelo menos uma hora em trepidação, solavancos e empurrões.
És tu, trabalhador, que sofres depois por tanto tempo e, ao chegares ao destino, caminhas para economizar outra lotação. E vais pensando na vida, em guardares teu ordenado. Ao mesmo tempo, cantas Wilson Batista e sua música “o bonde São Januário leva mais um operário sou eu quem vou trabalhar...” Enquanto isso, os carros importados desaguam nas avenidas e destoam a realidade brasileira.
És tu, senhor, que vês pelo chão sujo e sem nome, no meio do lixo, homens e mulheres cantando misericordiosos uma ode da pobreza, com os braços erguidos ao léu buscam o aperto de mão do dinheiro alheio; ao mesmo tempo, consomem perspectivas inúteis. Assim, vais vendo crianças descalças correrem seus anos, debaixo dos semáforos, fazendo malabarismo nas faixas do triste fado. Lembras que algumas têm pouco ou mais ou menos o tamanho dos seus rebentos.
És tu, pastor do sofrimento, de andar pesaroso, tendo a insossa companhia da ilusão. Ao badalar dos sinos percebes o séqüito na porta da igreja que és contido por sonâmbulas criaturas perdidas no tempo; algumas com três ninhadas nas murchas mamas. E pensas: Orais por eles... Tanta diferença social no vagalhão da realidade. Que és feito de tu? Porque sonhas água fresca em pote conspurcado? A cidade desagasalhada de Esperança chora torrencialmente em teus telhados e os derrubam. Dás adeus aos pertences que bóiam na água pardacenta. Acenas para quem amas, despede-se da tua cama. De repente, a sirene do carro de polícia te desperta dos devaneios do cotidiano. Lá se vão seres aflitos, presos por grades da sociedade que os formou... Sentes pena e tristeza.
És tu, andarilho, de rosto vincado, com o varal dentário cariado e um e outro ausente, que ainda crê num mundo melhor. Ruminas num sistema capitalista ingrato, com suas características de escassez. Paras em frente à banca e subtrais do bolso o parco dinheiro para o jornal. Os classificados insignificantes e sem empregos.
No trabalho, chegas e pões a armadura do batente, que te tolhe os movimentos e que te faz transpirar em demasia. O sol soca o lombo torneado e rígido; a fome te faz diminuir o ritmo de trabalho. Chamas teus amigos para o almoço. O self-service, sem balança, te ajuda a deglutir a comida o quanto quiseres. De prato feito, pirâmide egípcia, tens de colocar a carne em outro vasilhame. Comes vorazmente, pois o tempo é teu algoz. Voltas e ouves os brados poluídos de teu enfadonho patrão. Ao fim do expediente, soltas os grilhões; recebes a féria que não paga as contas e impostos exorbitantes.
És tu, sofredor, de cansaço explícito, de companheiros desnutridos e esquecidos pelo mercado. Trazes contigo a visão dos aflitos, enfrentas a mesma labuta diária, chata. No caminho de casa és recebido por pipas, bolas de futebol, fogos de artifícios e fogos de armas de artifício. És tu, com a cesta básica nos braços; de filhos esfomeados, fracos, uns de barriga d’água, os outros maltratados; mas semeias o amor.
És tu, trabalhador, negro, ébrio de cana brava que faz esquecer o tormento e apazigua tua vida. Esqueces a chave de casa no balcão do bar, escutas pagode e danças sem parar. Esqueces de ti mesmo, assim como o governo o faz. Retornas ao lar, beijas o semblante da mulher amada e dormes... E sonhas um dia deixares de ser a segunda pessoa; na gramática, na cabeça dos chefes, no dia-a-dia e na vida.

Vinícius por João Lenjob
Tenho conhecimento do talento deste rapaz há muitos anos. Vinícius é membro de sangue da mesma e novaerense familia que eu. A Gervásio e numa semelhança quase poética e oriunda de batismos paternos, não assinamos tal sobrenome. Este atleticano primo tem uma lírica parecida com a minha, mesmo tendo perfil e formato literario diferente. É muito bom ter um ente familiar no Intercambio e agradeço ao neto do saudoso Tio Kimkim pela gentileza e atenção ao pedido que fiz.

Intercâmbio - Isabela

Apresentando: Isabela Alves

Você chegou do nada querendo fazer seu show
Eu bastante admirada com seu jeito simples que me encantou
Esse seu jeito sereno, meio trêmulo, quase louco
Foi mexendo com meu coração e me deixando no sufoco.
Sua voz macia e doce ritmada com a canção
Me deixou encantada, quase sem ação
Seu jeito meigo de dizer que o teu coração eu roubei
Me pegou de surpresa que quase nada falei
Agora não tem mais jeito meu coração já se entregou
Só quero que o cuide bem afinal você que roubou
Hoje quero seu afeto, sua amizade, seu carinho e seu amor
Quero que me trate como uma bela, frágil e rara flor
Nesse belo jardim que começamos a plantar
Não podemos dar aberturas para o mal não propagar
A única coisa que quero agora é ouvir você cantar
Para que possa cada vez mais por você, meu coração se apaixonar.

Isabela Alves por João Lenjob
A Isabela é outra jovem escritora. Adoradora de poesias e poemas ela tem 14 anos somente e já é brilhante por natureza. Ela é um presente para a literatura e começou a carreira mandando muito bem. A conheci pelo orkut também e foi ontra pessoa, que generosamente, aceitou o convite de participar do Intercambio.

Intercâmbio - Gabriela

Apresentando: Gabriela Bertussi Moreira

Depois de uma semana de correria e expectativas quanto ao aniversario de 80 anos de Minha sogra, eu (Como toda mulher) Passei o dia todo da festa olhando roupa, sapato, roupa dos filhos, salão e etc... Fomos para a festa, comemos, bebemos e nos divertimos...
Na manhã seguinte minha filha de cinco anos me perguntou: Mamãe, eu também vou fazer uma festa de 80 anos para você?Aí, eu me senti tão fútil, tão pequena, perto da plenitude que é a comemoração de 80 anos de alguém! Pensei na minha vida agora, no meu marido, nos meus filhos e me lembrei que ela já viveu tudo o que vivo hoje e muito mais! Percebi que existia uma vida inteira ali... A historia de alguém que viveu revoluções, ditadura, democracia, criou cinco filhos, viu todos eles casados e a casa vazia..., No entanto ganhou 10 netos que encheu a casa novamente...Não mais como antes: agora a casa está cheia de crianças novamente, mas sem as preocupações do dia a dia!A escola, as notas, a alimentação e etc. E tudo isso, vivendo sobre o mesmo teto que o marido por 57 anos!E eu achando que faço coisas demais, que administrar um casamento, uma empregada, um emprego e os filhos, é difícil demais! Escolher a roupa certa para a ocasião certa então!É um dilema para todas nós...
Agora entendi que muito mais que uma “Festa” onde nos divertimos, existe a historia de alguém! Existe sentimentos de filhos, noras, netos e amigos.E que eu sim, gostaria muito de fazer 80 anos, e de criar meus filhos e de continuar casada com meu marido, e de ter netos, nora, genro e amigos nessa data tão especial!
Graças a minha filha, agora a palavra “festa” tem um sentido totalmente diferente para mim! E mais que me preocupar com a roupa que vou usar ou o penteado que quero fazer, vou me preocupar em agradecer a quem me convidou para esse evento, porque sei que se fui convidada, de alguma forma eu também faço parte da historia dessa pessoa!

Gabriela por João Lenjob
Gabriela é a sensibilidade em pessoa e em literatura. Dona de um talento nobre e familiar, a Gabi é casada com meu primo Renato Carneiro Moreira e a conheci na familia, claro! A generosa escritora contribuiu para o Intercambio numa festa de sua sogra, minha prima Helena e fez a analogia de sua vida com a dela. O resultado, foi impressionante. Espero poder receber mais obras desta nobre prima.

Intercâmbio - Rosângela

Apresentando: Rosângela Maluf

Deusas
R.Maluf

Algumas mulheres
são suaves
anjos doces e dóceis
inspiram paz
respiram flor
transpiram luz...
Essas mulheres
nascem como fadas
crescem feito árvores
ramificam
amadurecem
e dão frutos
Aparecem pela manhã
brilhando feito sol
são o entardecer
com luzes cores e sons
vagam pela noite
imersas em ondas
viram lua
Raras mulheres
são bruxas
muito poucas
são sábias
algumas, aprendem
poucas, sobrevivem
e aos 60, se transformam:
em deusas.

Rosângela por João Lenjob
A Rosângela Maluf, que tem parentesco duplo comigo, é também da cidade de João Monlevade. Sabia, inteligente e com espírito artístico admirável, ela nunca poderia faltar ao Intercambio e o fez com a dita sabedoria que por mim é tão admirada. A Rô, como é chamada, está também prestes a lançar seu primeiro livro e eu tenho certeza que será repleto de gentileza e talento, assim como poema acima descrito.

Intercâmbio - Marcella

Apresentando: Marcella Faria Ribeiro

Palavras mudas emitem o som do desejo
Gestos provocantes despertam nossa curiosidade
Pensamentos invadem nossas mentes
E o calor afeta nossos corpos
Lhe desejo por inteiro
Beijando-me devagar
Fazendo estremecer as pernas
Assim chego a delirar
Suas mãos me tocando intimamente
Seu silencio me diz o que desejo ouvir
Suas pernas envolvem meu corpo
Seus atos me dominam
Gritos não resolvem
Não é o que você deseja ouvir
Susssurros e palavras doces
Inibem seus pensamentos
Em uma história de desejo e tentação
Quero você guardado sempre no meu coração.
Isso é talento de verdade.

Marcella por João Lenjob
A Marcellinha a conheci através do orkut e desde o prinncipio me chamou de padrinho por retocar seus inteligentes poemas, poesias e textos enfim. Isso aconteceu há alguns anos, quando ela ainda nem tinha completado 15 anos. Hoje com menor frequencia ainda escreve, o que é uma pena, pois é uma artista de futuro.

Intercâmbio - Danielle

Apresentando: Danielle Morreale Diniz

Mas minha vontade híbrida é assim faminta
Legítima por sentimentos livres
Distância que sobrepõe à ignorância
Imposta por culturas amorais, morais, mortais
O que é vida senão o sentimento vivo?
O que é morte senão a construção da vida?
O que é isso senão aquilo?
Sentir é quase um estado divagar, devagar.
Um consumir de instantes por sensações
Os agoras não se chamam depois
E depois não conhece o instante agora.
Conhecer é plenitude de ser livre
Para o reconhecimento dos dias após
Sermos nós é termos mãos para dar nós
Um moldar de si mesmo que se encaixa
Laços atados pelas escolhas da procriação
Sempre livres, Livres, LIVRES!
Das preliminares
Dos olhares
Por gosto dividido em toques
De línguas e almas vastas
Selando líquidos os reversos da união
Saliva, sêmen e sangue
Universo molhado em capítulos
Espumas espessam tingidas
Versos em tons arte sem dono
Para sempre a Criação (sem oração).


Danielle por João Lenjob
A publicitaria Dani Morreale, além de belíssima, é uma jovem terna e inteligente. Não a conhecia via net e infelizmente só foi acontecer por causa também da Revista Trapiches. Mas foi o tempo suficiente para conhecer também mais do seu trabalho e do seu talento.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Intercâmbio - Sofia

Apresentando: Sofia Fada

Sinfonia

Sofia Fada

Foi a vida que me deu
laços puros de paixão,
risos fortes de alegria,
por fazer-se fantasia ,
dentro do meu coração.
Tudo isto sei que é meu,
nada mais é ilusão,
realidade que se cria
com a minha própria mão.
No infinito que é seu
quero encontrar o meu chão,
pra que sempre me sorria
com sua forte emoção.
Fantasia que se cria
e me traz toda alegria
de um lindo sorriso seu.
Mão que mais aumenta
a minha paixão
e toda emoção
do coração meu.
Vida assim tão simples
tanto amor exala.
Feliz por ter você- assim sou eu.


Poesia Pra Quê?
João Lenjob

Poesia pra quê?
Para parar no papel o amor que não tem fim
Para parar um pouco com a vida que continua, ou não,
Para deixar lágrimas que não molham ao escrever
(não borram, não embaçam, nem mancham);
Sobretudo poder molhar os olhos de quem lê.

Poesia pra quê?
Para expressar um sorriso que não tem dono (ou terá; será?)
Poesia para juntar forças ou talvez separá-las
Para montar um quebra-cabeça ou desmontá-lo
(ou apreciar ou ficar com preguiça até de olhar)
Para pular, brincar, voar, matar, morrer e até ser Deus.

Poesia pra quê?
Escrever pra quê?
Para legar, eternizar, legar, justificar ou tentar
Escrever pra lembrar
Escrever pra esquecer.

Sofia por João Lenjob
Sofia (Fada) Martins eu conheci na minha adolescencia e desde este tempo existia entre nós as expectativas literarias, que enfim, começaram a ser conquistadas, conforme a foto que mostra a troca de meu livro O Cavalo Livre de Troia com o dela Menino Revirado. Eu conheci esta jornalista em Nova Era, cidade de sua mãe, mas ela é natural de João Monlevade, cidade próxima. Na verdade me surgiu a ideia do Intercambio após ter recebido o convite dela para participar do seu espaço, que como combinado, foi realizado.

Intercâmbio - Camilla

Apresentando: Camilla Loureiro

Fui pega despercebida...
Andava e nunca olhava para trás,
sequestrada por seus sorrisos e
mãos que sem me tocar, me desarmaram
em olhares que encarnam, encaram.

Pedes para dar-te tudo que tenho,
sabendo que não é pouco, faz proveito,
grita, vasculha meus bolsos e
tira de mim, migalhas rasas.

Me rouba beijos estalados, sai correndo,
me rodeia, não se importa e nem olha á sua volta,
abre minha bolsa e rouba meus segredos íntimos...

Sem pudor, rasga minhas roupas em provocações,
me amarra, me prende, me arranha,
me deixa em estado de desvario e vai embora com tudo.

E eu, pago o preço por andar distraída!

Café com Creme
João Lenjob

Quero café expresso com creme de felicidade
Quero um café consistente com creme de baunilha
Quero café gostoso com creme do seu amor
Um café rico em saudade e o creme com sabor
Quero café com cheiro bacana e creme tão vistoso
O café que naquela vontade e o creme delicioso
Quero café tradicional com creme majestade
Um café até caseiro, mas um creme de tanto sucesso
Quero o café tão esperado e um creme tão poesia
Um café de universo com creme feito de versos.

Camilla por João Lenjob
A doce Camilla, que presenteou o Intercambio com este belo poema, é de Belo Horizonte. A conheci via net e pouco depois ela teve a gentileza de presenciar o marcante lançamento do meu livro O Cavalo Livre de Troia. Conquistei a intimidade com a escritora quando trabalhamos juntos para a Revista Trapiches. Daí compartilhamos mais nossa literatura e eu presenciei mais o seu talento. Para este projeto, fiz o poema para o seu blog também, que pode ser encontrado no link abaixo.