quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Intercâmbio - Cris

Apresentando: Cristiana Guerra

Tudo o que não sei sobre o amor

Cris Guerra

Tive um vizinho que discutia com a namorada três vezes por semana. Eu ouvia tudo. Não por opção: morava no apartamento abaixo. Aquilo era amor ao choro e à reconciliação. Mas não um ao outro.
Difícil saber o que é amor. Mais fácil saber o que não é.
Um namorado citou Guimarães Rosa: amor é “descanso na loucura”. Com ele vivi mais a loucura que o descanso, mas o aprendizado tem que começar por algum ponto. O vizinho devia estar nesse estágio também. Com o tempo vi que ele tinha razão. O namorado, não o vizinho.
Sim, amor é aquela sensação de estar voltando pra casa.
Adormecer lado a lado é a grande prova. No dia seguinte, acordar e ter a sensação de levar alguém com você. Descobrir um sorriso ridículo no canto da boca. Pronto, encaixou. Feito pecinhas de lego: diferentes, mas vindas do mesmo mundo.
Lego é gostoso. Quebra-cabeças, não.
Amor não é desejo: é feito de. Amor é feito de amor, mas não só. Amor não tem razão. Ninguém ama pelas qualidades do outro, nem apesar dos seus defeitos. Ama porque o outro é o outro e pronto. Amor é pacote completo.
Você sabe que é amor quando se descobre cúmplice. Quando tem a coragem de se mostrar. E de se ver. O outro é um espelho. Vai encarar?
Você sabe que é amor quando se entrega. Mas é melhor guardar algo para si mesmo. Amor não pode ser só para o outro.
Amor é o exercício do não ter. Amar e não ter nada em troca. Se é amor, não é em troca. Não serve pra nada, não garante nada. Como as boas coisas da vida.
Amor é presença e é falta. Uma não vive sem a outra. Amor é liberdade. Gostoso é saber que o outro, com tantas opções, escolheu você mais uma vez. O que fazer para que amanhã ele faça a mesma escolha? Mantenha-se distraído.
Amor é feito de hoje. Da arte de não fazer tudo sempre igual. Da construção. Como revestir parede com aquelas pastilhas bem pequenininhas. No amor é preciso colocar uma por uma. Sem pressa de ver pronto. Pra mim, é esse o sentido de amar como se não houvesse amanhã. Menos voraz do que sugere.
Desconfio que o amor começa com afinidade. Mas não tenho certeza. Amei pessoas tão diferentes. Sou amadora. Amei paredes inteiras. Quanto mais aprendo, menos sei. Gosto é do aprender.

Cris Guerra por João Lenjob
Foi com a Cris que eu descobri que a natureza quando mais divina deu um presente mágico pra vida. Além da nossa cordial amizade, de seus belos blogs, tive o privilegio de ler seu livro 'Para Francisco' e descobri que o amor, este nobre sentimento, é muito mais que literatura ou um simples detalhe da criatividade. A lendo percebi que seu jeito de amar é celeste e totalmente didático. A Cris é tudo isso que escreveu e que escrevi. Ela fomenta dos websites que são visitados expressivamente. Além de manter o blog paralelo ao seu livro, ela exibe sua critivaidade visual em seu blog de Moda, o Hoje vou Assim, e como gosto, escreve quase que diariamente. Falar da doce escritora é um prazer e foi com total cortesia que ela participou do Intercambio. Eu? Só agradeço.

Nenhum comentário: